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Três Marias

Projeto criado por duas universitárias ajuda e aproxima meninas na cidade

Eram 13h30 no metrô da linha verde de São Paulo. A caminho de casa estava Carol, embarcando na estação Vila Madalena. Assim como de costume o metrô estava muito cheio, e sem ter muito o que fazer sobre a lotação dos vagões, entrou no primeiro que passou.


Quando a garota se deu conta, um indivíduo se aproximou, ordenando que ela ficasse calada. Sem poder olhar para trás, Carol sentiu aquele desconhecido passando a mão nela. Enquanto ele fazia o que queria com seu corpo, ela não conseguia pensar em nada, além de torcer para tudo acabar: “uma vez te escolhem, você não tem o que fazer”.


Quando o trem parou na estação Consolação, o homem mandou ela descer. Obedecendo as ordens do violador, Carol desceu do vagão e decidiu na hora fazer um boletim de ocorrência. O resultado foi nulo.


Thaís Fontora, 20 anos, e Thaís Kuga, 21, estudantes de publicidade e propaganda da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) desenvolveram um projeto para ajudar mulheres que andam sozinhas pelas ruas de São Paulo. “3 Marias surgiu de uma necessidade nossa. Quando passamos para a grade noturna da faculdade, percebemos que o buraco era mais embaixo. O medo e a insegurança de andar nas ruas era muito maior”, confessam as garotas.


Com as ruas escuras e sem segurança, as estudantes procuravam companhias para o trajeto. “Foi ai que vimos que não só a gente fazia isso, várias outras meninas também faziam”, percebe Thaís Fontora, e completa: “à partir desse cenário colocamos em prática o projeto, buscando fomentar essa união e promover caronas a pé entre mulheres”.


A vontade de mudar e de fazer acontecer é o que move as meninas. “Andar com uma mulher do lado mostra que não estou sozinha e que não sou a única a passar por isso” revela Thaís Kuga. Para que as coisas ficassem mais fáceis, foram distribuídas pulseiras de cor lilás nas universidades de São Paulo e na estação Vila Mariana do metrô. “Foram cerca de 4 mil pulseiras entregues. As mulheres que usavam essas pulseiras conseguiam se identificar nas ruas como companhia para os trajetos a pé. A receptividade foi absurda, e o resultado foi impressionante”.


Foi desse efeito que as estudantes decidiram ampliar seus recursos, para alcançar e ajudar mais mulheres, desenvolvendo um aplicativo de celular, que no momento ainda está indisponível devido a uma bateria de testes. “É sempre bom lembrar que a gente está tratando de um assunto delicado: o medo e a insegurança da mulher de andar nas ruas. Precisamos garantir que vamos deixar uma ferramenta realmente segura nas mãos delas”, zelam as jovens empreendedoras.


“Isso é um passo adiante. Esses grupos ajudam as mulheres a sobreviverem em SP minimizando esse medo que existe, principalmente à noite. Quando eu falo medo, me refiro a violência e assédio”, destaca Juliana Gonçalves, 20 anos, que faz uso das pulseirinhas.


O maior desejo das meninas é que o projeto cresça cada vez mais, não por reconhecimento, mas sim pelo prazer de ajudar o próximo e fazer a diferença: “a gente quer fazer com que as mulheres sejam a solução dos próprios problemas” contam as estudantes, e terminam convocando: “na próxima vez que você sentir medo de ir a pé sozinha, convide outra mulher para ir com você. Então, Maria, Juliana, Carol, vão com as outras! Juntas, andamos melhor e mais seguras”.


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