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As caras do microempreendedorismo feminino

Mulheres se destacam no mercado de trabalho e contam suas histórias

Foto: Rebeca Simão

O amor pela culinária sempre esteve presente na família Montez. Passado de gerações, foi se aperfeiçoando em cada uma delas, da avó tradicional à mãe mais inovadora e à filha criativa. Tudo começou em 2014, com um tímido blog de receitas. Ao final do ano, em dezembro, a ideia do cookie no pote foi desenvolvida e vendida para alguns amigos próximos, e então, em fevereiro de 2015, a Cumbuquinhas se tornou um negócio.


Cláudia Montez e sua filha, Ana Clara Montez fundaram então a microempresa Cumbuquinhas, uma empresa de cookies e brownies no pote. Para preparar os doces, basta adicionar ovo e manteiga, misturar tudo e depois levar ao forno. O propósito de vender os produtos pré-prontos é incentivar as pessoas a se aventurarem na cozinha e perceberem que cozinhar não é tão difícil assim. "A nossa ideia é essa, fazer com que as pessoas se animem com a culinária", explica Ana Clara. Essa intenção estimula não somente aqueles que não são muito fãs de cozinhar, mas também as crianças, por ser algo tão fácil de se fazer que acaba se tornando divertido.


O preço tanto do cookie e do brownie no pote é de R$ 39,00. A Cumbuquinhas entrega para todo o Brasil e apesar de não ter uma loja física, possui quatro pontos de venda em lojas colaborativas de São Paulo: Kit&Home em Moema e em Alphaville, Espaço Achadinhos (para o público infantil), em Pinheiros, e Casa Santa Luzia, no Jardim Paulista. "É um espaço que, embora esteja dentro de uma outra loja, é um espaço nosso. A gente que repõe, a gente que vê o que vai colocar… Diferente de um supermercado", Ana esclarece. Segundo ela, expandir para uma loja física está nos planos da empresa, mas só daqui uns dois anos.

Este ano, elas pretendem focar em lembrancinhas (potes de tamanho menor) para festas e casamentos, e colaborações com outras empresas, como a +Mu, uma empresa de Whey. "Tudo que sai da nossa empresa, pelo menos no nosso padrão, é o melhor que a gente poderia fazer. Então, se for pra ser um brownie de Whey tem que ser o melhor brownie de Whey que vai ter em qualquer lugar", comenta com convicção Ana Clara sobre a recente colaboração.


Outra parceria feita pela Cumbuquinhas foi com a ONG Banco de Alimentos. Como é uma organização que prega pelo reaproveitamento dos alimentos, foi desenvolvido um novo sabor de cookies, com casca de laranja, uma parte da fruta que normalmente é descartada. "A casca tem muito mais fibra e proteína do que a polpa, então além de ser mais saudável ainda é uma coisa que vai pro lixo. O cookie ficou uma delícia", se orgulha Ana.


Como é uma empresa pequena, a Cumbuquinhas divulga seus produtos em feiras itinerantes, como a para o público infantil Feira Mini, que aconteceu nos dias 22 a 25 de março, das 11h às 20h, na Rua Cristiano Viana, 224, em Pinheiros. Também participam da famosa feira Jardim Secreto, para pequenos empreendedores, que esse ano acontece no dia oito de abril, das 11h às 20h, na Praça Dom Orione, no Bixiga.


Além das feiras, a Cumbuquinhas também oferece oficinas de cookies para crianças, na Kit&Home Moema e Alphaville. "É uma ação para promover. Para eles é ótimo porque vai um monte de gente pra loja e pra gente é bom pras pessoas conhecerem, provarem, as crianças verem… É uma divulgação mesmo. E eu gosto muito de fazer também, apesar de ser muito, muito cansativo, eu amo fazer. Eu e minha mãe gostamos muito dessa parte de mão na massa", confessa a cofundadora.


Entre os maiores desafios em criar o seu próprio negócio, Ana destaca a delegação de funções para funcionários. "Quando a Rosana entrou, foi muito difícil para mim. Eu sou extremamente perfeccionista, queria que ela fizesse exatamente do jeito que a gente fazia. E aí é óbvio que ela foi aprendendo e eu também fui abrindo mão de alguns detalhes que não faziam sentido... Mas isso de delegar é a parte mais difícil", admite ela. Rosana é a única funcionária, responsável pela montagem dos potes.


Já a microempresa Petit, fundada por Talyta Lago, não possui nenhum funcionário. É uma "eupresa", como ela gosta de chamar. "Sou eu em todos os processos. No design, no marketing, na criação das coleções, na fabricação das peças, no envio pros correios...", explica.


A Petit é uma empresa de acessórios para animais, como colares personalizados, gravatinhas e roupinhas. Foi criada em junho de 2015, enquanto Talyta trabalhava em uma agência de design gráfico. Recentemente, após o falecimento de uma de suas cadelinhas, Camille, em dezembro, a empresa ficou um pouco parada durante três meses, enquanto Talyta tentava se recuperar da perda.


Apenas na costura das roupinhas é que a empresa conta com ajuda. Mesmo que tenha feito curso de costura, Talyta tem o apoio de sua tia para um melhor acabamento das peças, que é mais experiente por ser costureira.


Para sua criação, a empresa contou com a ajuda do programa Decola LAB, de empreendedorismo criativo. É um curso online e gratuito com duração de um ano, que seleciona projetos e disponibiliza bolsas para os inscritos. É necessário gravar um vídeo explicando seu projeto para o Decola na hora da inscrição. "O curso é passo a passo. É também um curso de autoconhecimento, para você fazer um negócio com a sua cara, com a sua alma, com as coisas que você gosta", relata Talyta.


Em relação à feedbacks negativos, Talyta se lembra de um único caso, bem marcante. Foi quando um colar de pérolas de bijuteria comprado por uma cliente para sua cachorrinha arrebentou. A cliente mandou um e-mail explicando que sua cadelinha tinha arrebentado o colar e foi prontamente atendida; uma nova peça lhe foi enviada, juntamente com mais um lacinho.


"Eu acho que é importante o feedback negativo, é às vezes mais importante do que um elogio", reflete Talyta. Depois do ocorrido, ela criou um cartãozinho para colocar junto aos produtos, explicando que é preciso ficar de olho no animal nos primeiros minutos com o acessório, principalmente os mais arteiros, pois muitos não estão acostumados a usá-los e podem tentar estragá-los.


Assim como a Cumbuquinhas, a Petit também colabora com ONGs. No início, eram casos específicos que chegavam até a empresa, mas depois de conhecer a dona da ONG Celebridade Vira-Lata, Luli Sarraf, e ir em um evento com a organização, Talyta se identificou muito, e a partir daí se tornou uma apoiadora do projeto.


Além dessa ONG, Talyta ajudou também o protetor Marcelinho e um grupo de voluntários em sua cidade, Poços de Caldas (Minas Gerais), chamado União Movimento Animal. Ela contribui indo em feiras de adoção e convertendo parte do lucro de suas vendas para essas organizações e protetores.


Quanto aos lucros, a data comemorativa que mais dá retorno para a Petit é o Natal. Em parte, isso acontece porque, desde o primeiro ano da empresa, Talyta criou o Aumigo Secreto. Ele funciona mais ou menos como o tradicional, com a diferença de que, para participar, é peciso comprar um valor de presente antes do sorteio dos nomes.


Os participantes são sorteados por Talyta, que avisa para cada dono com quem seu animalzinho saiu no sorteio e, assim, o dono do animal pode escolher o produto para presentear. "O comércio todo vende muito no Natal, mas eu acho que a Petit vende por eu ter criado toda essa experiência. Não é só o produto, é a experiência de fazer um Amigo Secreto real, com os bichinhos", analisa Talyta.


Outra microempresa focada em acessórios, dessa vez para o público feminino, é a MIMs. A empresa foi fundada em dezembro de 2013, por duas melhores amigas de infância, Sofia Hernández e Martha Ribeiro, apaixonadas por moda, empreendedorismo e criatividade.


A ideia surgiu da falta de opções de bolsas no mercado que agradassem as duas, pois sempre havia algum problema, seja no tamanho, na alça, cor, qualidade ou preço. Com a MIMs, o intuito é que as clientes possam montar sua própria bolsa, que tenha mais a cara delas e expresse a individualidade de cada uma, pois será uma bolsa única e personalizada. As sócias juntaram R$ 30 mil para realizar o projeto, fazer o site e lançar a primeira coleção.


Para a visibilidade da marca, a fundadora Sofia assegura que apostar em youtubers e influenciadoras digitais é o que mais dá resultado. "Acaba passando mais confiança. Como a gente é uma marca nova, a pessoa pode até conhecer e achar legal, mas tem muitas dúvidas", justifica.


A MIMs tem uma parceria com a blogueira Andreza Goulart, de maneira que todos os produtos que são vendidos da coleção criada em colaboração com a influenciadora têm uma porcentagem destinada para ela. Em contrapartida, Andreza posta na sua rede social do Instagram e em seu blog sobre a microempresa.


Sofia aponta como um dos desafios em criar uma empresa a dificuldade para se conseguir investidores no meio corporativo, formado em sua grande maioria por homens. "A gente sente que falta uma conexão. É muito difícil você explicar o conceito de como é legal personalizar uma bolsa para um homem. É difícil pra ele assimilar", revela ela.


Uma alternativa que está ganhando força entre as mulheres empreendedoras é o microcrédito, criado através de um acordo entre a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) e a Caixa Econômica Federal. A intenção é disponibilizar um empréstimo como apoio financeiro para mulheres, com uma linha de crédito de até R$ 15 mil.


Outra opção que ajuda microempresas é o Catarse, uma plataforma para financiamentos coletivos que foi lançada em janeiro de 2011. "A ideia veio de inspiração de outras plataformas de financiamento coletivo fora do Brasil. A gente queria oferecer essa alternativa para os inúmeros projetos que ficavam engavetados por falta de oportunidades no Brasil", esclarece Diego Reeberg, um dos fundadores do projeto.


A plataforma financia projetos a partir da colaboração de pessoas que se identificam com as iniciativas e as apoiam financeiramente. Com essa ajuda, é possível tirar uma ideia do papel e torná-la um negócio.


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