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Criatividade nas escolas

A necessidade dos professores de se adaptarem ao novo meio de ensino

Foto: Victor Russo

São feitas críticas constantes à má qualidade do ensino público paulista, mas raramente focam na figura do professor. Antes de chegar à sala de aula e enfrentar condições péssimas de trabalho, os professores, quase sempre, prestam um concurso. Apesar de funcionários públicos terem estabilidade de emprego e receberem aposentadoria integral, os concursos são extremamente concorridos e difíceis de passar. Por isso, a outra maneira de trabalhar em colégio público é como comissionado, que são iguais aos funcionários públicos, mas sem os benefícios adquiridos pelo concurso. Para eles conseguirem uma vaga, é necessário que nenhum concursado queira.


William Murad, de 55 anos, relata a sua experiência dos mais de quatros anos em que ele trabalhou como comissionado em escolas públicas da zona oeste de São Paulo, como inspetor de aluno e auxiliar de professor no supletivo do colégio Roberto Mange e como professor de educação física na EMEF (Escola municipal de ensino fundamental) Almeida Junior para alunos de 11 a 14 anos e para uma sala especial com crianças com algum tipo de deficiência, “No Almeida Junior, era mais tranquila a relação com os alunos, eles até mostravam uma relação de carinho muito grande. O maior problema ali era a falta de equipamento para as aulas, muitas vezes eu tive que fazer bola de papel porque a escola não tinha bola”. Por outro lado, ele não tinha a mesma tranquilidade quando substituía os professores que faltavam no supletivo, “No Mange, era barra pesada. Quase todos os alunos iam armados para a escola e eram eles quem ditava as regras lá dentro. A forma que eu achei de conviver e sobreviver ali foi virando parceiro dos caras e tratando eles de igual para igual”, e completa, “O pior momento que eu passei foi em um dia que teve tiroteio na porta da escola. Um dos envolvidos era aluno do Mange. Foi aquela correria, os professores se trancaram dentro da sala e só saíram quando os tiros pararam”.


Esse drama que todos passam dentro das escolas públicas é resultado das péssimas condições de vida de parte população, “Falam em implantar um modelo de ensino igual ao do Canadá e da Suécia, mas eles esquecem que tem aluno que tem que andar quilômetros para chegar à escola mais perto porque onde eles moram nem transporte tem. Muitos desses acabam largando os estudos e entram para o crime. Eu vi muitos alunos desaparecerem e depois descobri, por terceiros, que eles tinham se envolvido com tráfico, assaltos, etc. É muito triste essa realidade, tinha aluno que ia para escola só para comer porque não tinha comida em casa”, critica William.


Recém-aprovada em concurso público, a professora de Inglês, Fernanda Padilha, de 37 anos, também não teve vida fácil dentro das salas de aula, ficou apenas dois dias na EMEF Conde Luiz Eduardo Matarazzo, localizada em Osasco, Grande São Paulo, e decidiu pedir demissão, “Os alunos não estavam com vontade de aprender. Eu entrava na sala e eles falavam ‘não professora, não passa nada não, deixa a gente ficar no celular ou ouvindo música’. Eu tentava dar aula e eles nem olhavam para mim, alguns até ficavam com fone de ouvido. E foi basicamente isso. Eu fiquei dois dias, percebi que não era a minha praia e escolhi sair”, conta Fernanda.


Apesar de quase toda São Paulo sofrer com a precariedade no ensino público, há regiões com escolas bem preparadas para receber os alunos e que dão boas condições de trabalho para os professores. É o caso de muitos colégios do Taboão da Serra, como explica a professora concursada, Camila Tolentino, de 30 anos, que trabalha há um ano em duas escolas da região, “As de ensino fundamental e médio têm acompanhamentos para os alunos, como o educacional especializado e o grupo de apoio pedagógico, além de atividades extracurriculares e bibliotecas disponíveis a todo o momento para quem estuda lá”. Mais do que facilitar o trabalho do professor, a presença de bibliotecas estimula a leitura e o aprendizado, e rema contra a maré, visto que essas estão desaparecendo em São Paulo. Outro ponto que Camila ressalta é a chegada de um novo público de alunos, “Com a crise do país, muitos perderam o emprego e não conseguem pagar uma escola particular, por isso, estamos recebendo alguns alunos de classe média”.


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