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O desafio da locomoção

Cidadãos procuram maneiras de escapar do trânsito do dia a dia

Foto: Isabel Rocha


A coordenadora de marketing, Jéssica Villegas, 29, trabalhava a 42 km de distância de sua casa. “Eu morava em Guarulhos e trabalho no Brooklin. Eu gastava, no mínimo, 4 horas do meu dia para ir e voltar do trabalho”. A também moradora de Guarulhos, estudante de rádio e tv, Nadia Reis, 22, leva, em média, duas horas para chegar na faculdade. Saindo de casa às 5h40, chega só às 7h30, tempo gasto parecido com o de Jéssica.


Moradoras do mesmo bairro, elas têm que se locomover até a Estação Armênia para começar a viagem. Saem de casa, andam alguns minutos até o ponto de ônibus, esperam ele chegar e vão até o metrô. Ali elas ainda precisam andar 8 estações e fazer uma baldeação para trocar de linha, momento que divide o percurso das duas. Chegando na estação Bresser-Mooca, Nadia desembarca, anda mais alguns minutos e chega à faculdade. Já a coordenadora de marketing, ainda precisa seguir pela linha do trem e ir em direção à Berrini.


O administrador Henrique Pietro Lorenzo, 32, cansou da loucura do trânsito enfrentado pelas duas e aderiu à bicicleta. “Eu sempre usei muito carro, pra lá e pra cá, mas em 2012 comecei a abandoná-lo para começar a usar bicicleta. Uma das melhores mudanças que eu já fiz”, celebra. Henrique não nega que o conforto do carro era muito maior, mas o contraste de gastos e tempo desperdiçado acabou levando o trabalhador a abandonar o veículo de vez.


Diferente de Nadia, Jéssica e Henrique, o também administrador Rafael Souza, 27, prefere ser independente de todos os meios e usar as próprias pernas para se locomover. Ele vai e volta a pé do trabalho todos os dias. Fazendo 30 minutos de caminhada para chegar ao destino, a decisão também foi tomada com base nos custos e no benefício que o exercício traz. Entrando para o time dos pedestres, a biomédica Ísida Campos, 55, anda a Avenida Paulista inteira todas as manhãs. “Vou de carona até a Avenida Bernardino de Campos e de lá eu começo minha caminhada até a Avenida Angélica, andando a Paulista inteira.”, ela narra.


Jéssica Villegas tentou todos os meios possíveis: ônibus, metrô, trem e carro, mas nenhum deles compensava o tempo e o dinheiro desperdiçados. “Eu não gastava muito economicamente com transporte público, mas era muito desgastante e eu perdia muito tempo com o caminho gigantesco que tinha que fazer. De carro era o contrário: o trajeto era mais rápido, mas eu gastava muito com gasolina”, ela contrasta. Foi então que surgiu a ideia: “a última opção que eu tinha era me mudar dali e ir morar em algum lugar mais próximo”.

Já a estudante Nadia confessa que, se pudesse, iria de outra maneira - ônibus fretado -, mas lamenta que o gasto seria muito maior e ia acabar não compensando. “Eu não gosto desse caminho todo, pego ônibus lotado todos os dias. Muitas vezes ele não para no ponto ou desvia o caminho, e aí tenho que ir a pé em todo o percurso”, e ainda completa “o metrô muitas vezes está lento nesse horário, tirando a lotação, que é algo que eu já me acostumei”.


O administrador Henrique, que trabalha na Avenida Berrini, 7 km de sua casa, revela que a diferença de tempo gasto entre os dois meios - carro e bicicleta - é de 80 minutos por dia. Quando ia de carro, gastava, em média, 1h para ir e 1h para voltar. Já de bicicleta são apenas 20 minutos. Esse conjunto de pontos positivos que a “magrela” - apelidada por ele - trouxe, fez com que vendesse o carro: “me livrei do meu e não penso em comprar outro não”. Mesmo tendo outras maneiras de se locomover pela cidade, algo inviável no dia a dia e Nádia, o administrador preferiu abandonar todas e seguir apenas com a ‘bike’.


Por outro lado, a biomédica Ísida prefere ir a pé, mesmo podendo usar a bicicleta. Além de não se preocupar com o trânsito da lotada avenida, ela celebra que a caminhada ajuda no corpo e na alma. Emagrecer alguns quilos e chegar mais tranquila ao laboratório faz toda a diferença no dia a dia dela. “Recomendo todo mundo a tentar, eu mesma lutei um pouco, mas quando comecei, notei a diferença enorme que fez.”, ponto que Rafael Souza também está de acordo. “Eu ainda tenho um pouco de receio de usar a bicicleta em uma avenida tão movimentada, é preciso ter cuidado. Por isso, opto pela caminhada.”, ela assume.


Hoje, a coordenadora de marketing - Jéssica - mora a poucos minutos do trabalho, mesmo gastando um pouco mais economicamente. “A minha qualidade de vida mudou, é impressionante. Eu era muito estressada”. Já a estudante Nadia, que não tem essa opção, continua no trajeto de todos os dias. “Eu tento fazer do meu caminho o melhor possível. Vou ouvindo música, lendo um livro e conversando com as pessoas. Isso me ajuda bastante”.


O administrador Henrique incentiva todos que pensam em abandonar o carro e aderir à bike. Ele nunca teve grandes problemas, mas alerta que existe um pouco de risco, concordando com Ísida, pois alguns motoristas desrespeitam os ciclistas e as sinalizações, mas incentiva dizendo que não é algo impossível de se fazer. “É só ir tranquilo, usar todos os itens de segurança (capacete e iluminação), evitar avenidas muitos movimentadas e sempre que possível usar as ciclofaixas. Agora eu consigo ir da minha casa até o trabalho com 90% na ciclofaixa.”, ele aconselha.


Afim de testar a eficácia e a rapidez dos meios de transporte da cidade de São Paulo, a equipe de reportagem do G1, da Globo, fizeram um teste para ver como todos eles se saem e qual usuário chegaria primeiro. Saindo de uma praça na Zona Sul em direção ao Centro, o trajeto era de quase 10 km e os participantes contavam com: bicicleta, moto, carro, ônibus, trem e pernas.


Todos encontraram algumas dificuldades que são particulares de cada meio (cansaço, desconforto, lentidão, trânsito), mas não imaginando que o resultado, em ordem de chegada, seria: bicicleta, moto, a pé, carro, ônibus e por último o trem, com uma diferença de quase 2h do primeiro para o último colocado.


Jéssica, Nadia, Henrique, Rafael e Ísida: todos eles já tentaram encontrar alguma maneira de se livrar do trânsito caótico que a cidade possui. E você? Qual o seu jeito?


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